Philippa Gregory

Título original: Wideacre*

Crimes violentos e paixões irrefreáveis, num romance marcado pela ambição - alguém disse.

Beatrice Lacey é a personagem principal do livro, de espírito forte, (como o pai, o Squire) inflexível, é linda e se recusa a obedecer aos costumes sociais de sua época. É tradicional, além de repugnante, interessante, perversa e pervertida.
Amava demais Wideacre, ela e a terra eram uma só. E por essa terra ela faria, e fez, qualquer coisa.
O pai morreu e de acordo com as leis da Inglaterra, no século XVIII, o irmão Harry deveria cuidar do vasto legado, impedindo-a de se tornar a proprietária das terras ancestrais.
Harry pouco ou nada sabe sobre como cuidar do campo, dos trabalhadores ou da colheita. A mãe mesmo que quisesse ou fosse legal, era uma dama e ignorava tal tarefa laboriosa.
Ela, fissurada por Wideacre, dominada por uma mistura trágica de revolta, insegurança e ambição não hesita. Desprezando os sentimentos mais elementares (como o pudor) comete incesto com o irmão e subordiná-lo será apenas mais um dos seus instrumentos para consolidar seu plano.
A Sra. Gregory, o marido Dr.MacAndrew,a cunhada Célia e Ralph (o primeiro amor) só são mais uns a cair na sua teia.
Explora o feminino e o masculino descaradamente, gostei muito da personagem e o que pode parecer estranho: torcia pra que ela se desse bem no final. Mas o que me irritou foi a estupidez e a cegueira desses outros personagens.
O fim da personagem é esperadamente triste. O leitor percebe que ela é assombrada por uma das suas vítimas, uma pessoa que sabe a extensão dos seus planos e sua capacidade para o mal, e que volta pra se vingar.
Admiro a Philippa: é um grande desafio de escrever um livro cujo "heroína" é tão desagradável
Vendo outras obras noto que as personagens femininas de Gregory são absolutas na sua independência e competitividade com o mundo masculino.
No caso da Beatrice ela - a autora - parece inovar é na força que, na luta pelo poder, pela posse da terra, aliam um alto índice de corrupção, maquiavelismo, crimes, incesto e muito mais, num período onde pouco se oferecia às mulheres, que não tinham sequer o direito de herdar a
propriedade familiar, algo que, na sociedade inglesa, só foi possível a partir do final do século XIX.

Um bom livro, um ciclo de insensatez que me fez buscar avidamente o próximo capítulo.

Sobre a escritora: Philippa Gregory, de acordo com o New York Times, é uma boa autora de mais de uma dúzia de livros, incluindo The Other Boleyn Girl.
Ela tem doutorado em Literatura do Século XVIII pela Universidade de Edinburgh e mora com marido e filhos na Inglaterra.
* Esse livro está integrado a uma Trilogia: Wideacre (1987) The Favored Child (1989) Meridon (1990)
Livro mais atual da autora: The Other Queen (2008)

Trecho adaptado de Anjo Perverso:

- Diga que me ama antes de eu partir.
- Oh, não - falou indiferente. - Não direi nada disso.
- Você não me ama?
- Não - disse Ralph - Você também não me ama, não é?
Fiz uma pausa, sufocando nos lábios um grito de afronta. Não podia dizer que o amava. Gostei dos beijo e gostaria de ver Ralph de novo, mas...
- Não - falei vagarosamente - Acho que não.
- Exitem os que amam e existem os que são amados, já vi homens crescidos e finos chorarem como crianças por minha mãe e ela não lhes deu nem um olhar. Nunca vou fazer isso por uma mulher. Nunca vou amar, me lamentar e adoecer por alguém. Serei amado, receberei os presentes e os prazeres... depois sigo adiante.
- Também não vou ser quem ama - falei com firmeza.
- Ora, você vai se transformar numa verdadeira demolidora de corações quando estiver pronta. Com esses olhos claros, lábios rosados e cabelo castanho, encontrará todo o prazer que deseja. Comigo será só por prazer.
- Então que seja por prazer - pactuamos

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